Faixa de pedestres


Talvez eu devesse ir ao médico. Mas talvez ele me ache louca. Não sei quando começou, mas vem piorando a cada dia. Eu perco a noção do tempo, atravesso os dias querendo voltar para minha cama, tudo parece passar tão devagar. Mas depois, na minha cama, tudo parece ter passado tão rápido, percebo que tive oportunidades de fazer alguma coisa e não fiz, e fico preenchida de vazio. Hum, vazio... Se parar para pensar, o vazio não é vazio, não é? Porque tem células e ar ali. Deve ser mais ou menos assim que eu fico: cheia de vazio, um vazio em que cabe muitas coisas: choros, gritos, arrependimentos e angústia. É que eu pareço viver em uma faixa de pedestres, entre um caminhão de vontade de viver a minha vida e um caminhão de vontade de fugir dela. E, uma hora ou outra, vou ser atropelada. 

A culpa é das estrelas

Vai chegar um dia em que todos vamos estar mortos. Todos nós. Vai chegar um dia que não vai sobrar nenhum ser humano sequer para lembrar que alguém já existiu o que a nossa especie fez qualquer coisa nesse mundo. Não vai sobrar ninguém para se lembrar de Aristóteles ou de Cleópatra, quanto mais de você. Tudo o que fizemos, construímos, escrevemos pensamos e descobrimos vai ser esquecido e tudo isso aqui-fiz um gesto abrangente-vai ter sido inútil. Pode ser que esse dia chegue logo, e pode ser que demore milhões de anos, mas, mesmo que o mundo sobreviva a uma explosão do sol, não vamos viver para sempre. Houve um tempo antes do surgimento da consciência nos organismos vivos, e vai haver outro depois. E se a inabitabilidade do esquecimento humano preocupa você, sugiro que deixe esse assunto para lá. Deus sabe que é isso que todo mundo faz. — A culpa é das estrelas.